sexta-feira, 24 de junho de 2011

Grupo de Pais Gays de São Paulo promove reflexões sobre a família homoparental, preconceitos e possibilidades...

Ser gay, ser pai – reflexões sobre o Grupo de Pais Gays de São Paulo

Autor do texto: Christian Heinlik 

"A paternidade por si só é um fator de mudança na vida de quem se aventura na construção de uma família. A paternidade em famílias gays, de solteiros ou casais, começa com todos os embates, dúvidas e inseguranças que quaisquer novos pais, independentemente da orientação sexual... mas vários desdobramentos trazem particularidade a essa modalidade de núcleo familiar, desdobramentos para os adultos e para os filhos.

Nossa! Um universo de dúvidas, receios, descobertas, dores e delícias se descortina quando uma família gay recebe seu/s filho/s. O Grupo de Pais Gays de São Paulo foi formado justamente para dar referência, promover discussões, criar espaço para a troca de experiências... tudo isso com um grande objetivo: promover vínculos mais saudáveis entre pais gays e seus filhos. Saúde esta que vem não apenas através da troca de experiências, mas, antes de mais nada, da consciência de que ser gay não “exclui” a possibilidade de se ter uma família, muito menos implica em relações pouco saudáveis, imagem que, infelizmente, ainda faz parte do imaginário popular, inclusive entre os próprios homossexuais.

Sim, o conceito de que uma família gay causará mais estragos à psique dos filhos, paradoxalmente, permeia o discurso não só de heterossexuais, mas também de muitos homossexuais. Às vezes por falta de informação, às vezes por apego à crença da volatilidade das relações gays, da promiscuidade, do narcisismo exacerbado... não vem ao caso agora discutir os porquês, o que é importante ressaltar é que famílias gays com filhos ainda são tabu para a sociedade em geral. Tabu que vem sendo ‘desmontado’ com a ajuda de pesquisas e trabalhos científicos que têm avaliado a qualidade do vínculo entra pais gays e seus filhos.

As conclusões dessas pesquisas? Que a orientação sexual dos pais tem nenhum impacto na estruturação da filiação, da vinculação. O que faz diferença é a qualidade das relações afetivas, o desejo do/s pai/s ao se tornarem ‘pais’, a auto-aceitação de sua condição homossexual...

Certamente vivemos um período de busca e descobertas de novos caminhos, com a jurisprudência apontando para uma nova abordagem sobre o reconhecimento da união entre casais formados por pessoas do mesmo sexo, com possibilidade, ainda que repleta de dificuldades jurídicas, da adoção de crianças por casais gays (solteiros já adotam há mais tempo). Mudanças lentas, mas que permitem que a sociedade em geral, incluindo os próprios gays, perceba que a orientação sexual homoafetiva não exclui o direito e a possibilidade de exercer alguns desejos que até a pouco tempo não imaginávamos poder realizar.

Vou citar uma conversa que tive com um amigo que também é gay e hoje se prepara para ser pai por adoção. Não vou citá-la por achar que foi mais importante que as muitas conversas que já presenciei sobre o tema, mas sim porque foi simbólica... porque exemplifica esse momento de descoberta de que falei há pouco, esse momento de nos apropriarmos de nossos desejos e direitos... Estava na festa de aniversário de um amigo, conversava com algumas pessoas, contava das minhas aventuras na fase de habilitação para adoção... um rapaz que estava participando do papo (esse que hoje é pretendente à adoção) me perguntou espantado: “mas um cara solteiro e gay pode adotar???”... “sim”, respondi com um sorriso... e a conversa seguiu como se desbravássemos um novo continente!

Poesia à parte, essa conversa me marcou, pois acho que de fato muitas vezes vivemos menos coisas do que gostaríamos pelo simples fato de não acreditarmos ou simplesmente não sabermos ser possível... no caso da paternidade por homossexuais isto é muito freqüente.

No Grupo de Pais Gays de São Paulo, após alguns encontros, já conseguíamos perceber mudanças em todos... na aceitação da própria homossexualidade (e consequente melhora na relação com familiares e amigos), no amadurecimento do desejo de paternidade e, mais do que tudo, na sensação de que não estamos sós, de que podemos contar com a valiosa e imprescindível amizade de pessoas que se reúnem por afinidade: a paternidade!"

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